Nesta semana, o Banco Central divulgou um levantamento que mostra que os brasileiros estão gastando cerca de R$ 20 bilhões por mês com apostas online. Esse tipo de aposta vem comprometendo a renda das famílias, mas afeta também a saúde mental da população.
Em entrevista ao Central do Brasil desta quinta-feira (26), Caio Parada Cabral, doutor em psicologia do desenvolvimento, explicou que o maior risco das apostas online é o desenvolvimento do vício, que pode gerar altos níveis de ansiedade, depressão, comportamentos agressivos e até comportamentos suicidas.
Cabral afirma que pessoas de baixa renda estão entre as mais vulneráveis aos impactos na saúde mental causados pelas bets.
“Quando a gente analisa a população que tem maior risco de desenvolver vício em jogos, geralmente são homens jovens solteiros, ou casados por menos de cinco anos, e que têm dificuldades financeiras”, explica
Outro público vulnerável ao risco de vício em jogos são pessoas que já possuem algum tipo de problema de saúde mental.
“Algumas condições psiquiátricas, como por exemplo, depressão, vícios em outras substâncias e até mesmo a presença de parentes com vício em jogos na família apontam para uma tendência maior a esse tipo de comportamento. Ainda é preciso desenvolver mais estudos na área, mas existe uma correlação. Então, a existência de algum tipo de transtorno ou uma baixa condição cognitiva também pode empurrar não só para o jogo, mas também para a dificuldade de controlar o comportamento de jogar”, conta Cabral.
O especialista falou ainda sobre os mecanismos psicológicos que tornam as apostas online tão envolventes.
“Existe o jogo recreativo, aquele que não oferece risco, desde que a pessoa saiba controlar o impulso e a vontade de jogar e analisar o impacto que a aposta pode trazer para a vida. Mas a gente não sabe apontar bem qual é o ponto de virada em que a pessoa passa a querer jogar mais. Uma hipótese é a seguinte: o comportamento supersticioso não precisa de muito pra ser aprendido. Então, quando você tem êxito uma vez na sorte, isso tem um valor de aprendizado muito mais forte do que situações que a gente precisa treinar para aprender ou para memorizar. Quando algo dá certo porque a gente tentou e conseguiu na sorte, a nossa tendência de tentar reproduzir aquele êxito é muito grande. Então, isso é o que acontece na aposta: a pessoa toma o risco, eventualmente dá certo, e ela precisa de pouco êxito para se manter tentando”.
Ainda segundo Cabral, existem sinais de alerta que indicam quando o comportamento de jogar se torna patológico.
“Os principais aspectos são o impulso para jogar. Então, se o ato de jogar passa a ser uma ideia predominante, algo que a pessoa quer fazer muitas vezes ao dia ou muitas vezes na semana. [Também] os níveis de ansiedade para jogar, então, aquele momento pré-jogo deixar a pessoa com uma excitação muito alta, e a agressividade caso essa pessoa seja impedida de jogar”.
Nesses casos, o atendimento precoce em saúde mental pode evitar danos maiores à vida da pessoa.
“É importante buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica tão logo se observe o aumento dos níveis de estresse, de ansiedade ou de agressividade. Quanto mais cedo for a intervenção, mais a gente pode evitar os impactos deletérios do vício, que são grandes, principalmente na parte financeira e na relação com as pessoas”, finaliza Cabral.
A entrevista completa está disponível na edição desta quinta-feira (26) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.