Desde de 2023, a tradicional corda do Círio de Nazaré, anteriormente fabricada em Santa Catarina com fibras de sisal, passou a ser produzida em Castanhal, utilizando fibras amazônicas. A malva, uma planta típica da região bragantina, é a principal matéria-prima, sendo processada cuidadosamente para criar a corda que liga os romeiros à berlinda de Nossa Senhora de Nazaré.
Rita Queiroga, gerente industrial da Companhia Têxtil de Castanhal (CTC), está à frente do processo e enfatiza a importância simbólica desse trabalho.
“Produzir a corda, o segundo símbolo mais importante do Círio, é diferente. É com sentimento, é com outra motivação”, afirma Rita, que trabalha há 38 anos na indústria têxtil e é a primeira mulher a ocupar o cargo na empresa.
O processo começa em fevereiro e envolve cerca de 600 funcionários, desde a seleção da malva até a torção dos fios para formar a corda. Segundo Rita, o uso da malva traz vantagens em relação ao sisal, como menos abrasividade e maior conforto para os romeiros que puxam a corda durante a procissão. Além disso, o óleo de palma, típico da região, é usado para amaciar as fibras, tornando-as mais flexíveis.
A CTC também está desenvolvendo souvenirs a partir dos materiais remanescentes da produção da corda, permitindo que os devotos levem para casa uma parte deste importante símbolo religioso.
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Tradição e Inovação na Produção da Corda
A mudança para Castanhal foi um desafio inicial para a CTC, que criou seu próprio método de produção sem replicar o modelo utilizado com sisal. Diversos testes de resistência foram realizados para garantir que a corda suportasse as tensões extremas do Círio, especialmente após um incidente de rompimento em 2022.
O transporte da corda até Belém, feito com extremo cuidado, também envolve cerimônias de entrega e recebimento, reforçando a importância da corda como um dos maiores símbolos da fé paraense.
O uso de fibras amazônicas, além de valorizar os recursos da região, fortalece uma tradição que agora está ainda mais ligada ao estado do Pará.
Da matéria-prima ao transporte a Belém
1. Seleção da matéria-prima
A malva é a principal fibra utilizada na corda do Círio. Suas raízes precisam secar à beira do rio, pelo período aproximado de uma semana, antes de serem agrupadas em fardos para transporte até a fábrica. Além da malva, fios de juta dão resistência à composição.
2. Amaciamento
Na fábrica, os fardos são desmanchados (processo de embonecamento) para se tornarem fileiras a serem amaciadas com óleo de palma, tornando-as mais flexíveis.
3. Transformação em fio
Os estágios de processamento da fibra, até se tornarem linhas, incluem penteagem (paralelização dos fios) e tratamento com emulsificante para retirar as impurezas. São necessárias 72 horas de descanso antes de entrar na cardagem (continuação da abertura das fibras para dispô-las de forma uniforme). Após o terceiro passador, as fibras viram fitas, o último estágio antes de virar carretel.
4. Torção
Os fios são torcidos e unidos para formar lotes de 30 a 50 metros de corda.
5. Revisão de segurança
A corda é conectada a dois caminhões, sendo utilizada para rebocar um deles. O teste busca simular condições extremas de tração para garantir sua resistência e flexibilidade.
6. Transporte para Belém
A corda é cuidadosamente transportada para Belém, a cerca de 40 dias do Círio de Nazaré, em lotes de 30 a 50 metros. Duas cerimônias são realizadas: uma para entrega do produto, em Castanhal; e outra para recebimento, na Estação Padre Luciano Brambilla, no Centro Social de Nazaré.
7. Revisão final
Em Belém, duas semanas antes das procissões da Trasladação e do Círio, as argolas e nós da corda são revisados. É quando é feita a amarração dos lotes uns aos outros e às cinco estações metálicas, que agrupam os promesseiros em uma espécie de gradil, ao longo dos 400 metros de corda em cada uma das procissões.