Em uma pequena fábrica no município de Castanhal, a 75 km de Belém, uma artesã pinta cuidadosamente tênis com tinta e pincel, dando vida aos produtos da marca Seringô. A cena, que ocorre sob o calor de mais de 30ºC, reflete a dedicação envolvida na criação de calçados sustentáveis, feitos a partir de matérias-primas amazônicas, como o caroço de açaí e a borracha extraída de seringais nativos no arquipélago do Marajó.
A Seringô, liderada pelo empreendedor social Francisco Samonek, 73, busca ampliar sua atuação, com planos de colocar seus produtos no mercado europeu antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém. Samonek, que vive há 42 anos na Amazônia, acredita que a procura por produtos sustentáveis é maior no exterior. “O consumidor brasileiro ainda não está olhando para a questão da sustentabilidade tanto quanto se olha lá fora”, destaca.
A marca, que nasceu em 2018 como desdobramento da Oscip Poloprobio, uma organização voltada para a sustentabilidade e o desenvolvimento da cadeia produtiva da borracha, utiliza materiais da região amazônica. O caroço de açaí, por exemplo, é triturado e adicionado à borracha dos calçados, reduzindo custos e melhorando a qualidade do produto. “Toda a nossa borracha recebe o pó do caroço de açaí. Barateia o custo. Assim, também consigo pagar mais para o seringueiro”, explica Samonek.
Apesar de a montagem dos tênis ocorrer no Rio Grande do Sul, a empresa planeja mudanças em seus processos para otimizar a produção e reduzir a necessidade de transporte entre as regiões Norte e Sul. Samonek também enfatiza o compromisso com as comunidades locais: a renda obtida com a venda de artesanatos produzidos por essas comunidades é revertida integralmente para as famílias envolvidas. “Queremos dar uma condição de vida para que o seringueiro possa estar cuidando da floresta”, afirma.
A visão do empreendedor vai além do lucro. Para ele, o verdadeiro legado está em promover o desenvolvimento sustentável e melhorar a vida das pessoas da região amazônica. “A vida da gente é trabalhar com o propósito de ajudar as pessoas, de ampliar o quantitativo envolvido”, conclui.